segunda-feira, 15 de março de 2010

O VOO

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Para o João, ave em busca do seu destino
.
Olhava para ti
Enquanto deslizavas
Em pleno deleite
Na graciosidade do voo
Olhando o ramo mais alto
Em sorriso primaveril.
O respirar era ágil
Na perfeição do pino
E o alto dos pinheiros
Limite da iniciação
Não escondia a ambição
Dum voar mais amplo
Que sonhavas no distante
Cenário do teu destino.
A segurança do ninho
Tecido com ternura
Já não te bastava
E lentamente sufocava
O enorme anseio
De tudo abraçar.
Quando sentia
À tardinha
O teu olhar no longe
E via o apelo
Desenfreado
Dos trilhos impossíveis
Sabia que nada
Mesmo nada
Te faria perceber
Que o longo braço da vida
Não tem distância
Mas equilíbrio
Em porfiada harmonia.
A partida era iminente
A favor ou contra a corrente
Alheia à palavra calma
Mas só tu poderias descobrir
Nas teias do porvir
O verdadeiro lugar
Da dimensão da tua alma.
.
.

12 comentários:

  1. Hoje, gostava de ser o João
    Voar sem rumo no colo do vento
    E acariciar o alvor da emoção…
    Hoje, gostava de ser o João
    Saber que o limite das asas
    Fica muito além do que dizem ser a razão…
    Hoje, gostava de ser o João
    Perder-me no céu, poisar
    Perto do sol e longe da perdição…
    Algum dia serei o João?
    (Se não me cortarem as asas
    Nem me ferirem o coração.)

    Até lá...
    (E como não posso ser o João)
    Quero apenas acreditar
    Que a cada momento
    Na alma me crescem as asas
    Para um dia poder voar,
    com ternura e perfeição.

    A beleza do teu poema "iguala-se" à extraordinária beleza de uma ave em pleno voo...
    Gostei muito de poder voar nas asas das tuas palavras. Obrigada.

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  2. Bem haja por me fazer sonhar e sorrir,sempre que leio o que escreve! Nesta vida tão amargurada, onde a revolta e o sentimento de não pertencer aqui, os seus textos, poesias, vão apaziguando tudo o resto. Quanto ao livro, compreendo. :) O cansaço, é o meu único remédio para mascarar tudo o resto e a maneira que eu arranjei de não pensar e fazer o que não devo!se aqui estou, algo devo ter que provar a mim e ao mundo que me rodeia.OBRIGADA!

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  3. Pois é, amigo, eles têm que partir à procura de si mesmos e não há volta a dar-lhe.
    Ah, quem me dera fazer o voo do João!
    Um abraço

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  4. É este sonho que nos acalenta a alma e nos faz fazer.
    É pelo sonho que o Homem voa para um destino melhor. Utopia? Talvez sim ou talvez não. Já o Gedeão dizia que "o sonho comamda a vida" e ele, como homem da Ciência, dos melhores do nosso tempo, lá saberia como a utopia se pode tornar real.
    Tal como o caminho se faz caminhando levar a vida a - "aprender a aprender" em termos científicos a "metacognição" - leva-nos a acreditar que é sempre possível voar mais alto. Criar asas fortes que nos conduzam às alturas. É preciso querer. Ter confiança. Alimentar a Esperança. Acreditar no bom que existe em cada ser humano e minimizar a parte má. Mais Alma e menos Instinto.
    Será que o Físico Rómulo de Carvalho (Gedeão) não é actual? Quero acreditar nesta utopia neste voo mais alto e mais além. Sei que depende mais de mim do que dos outros, mas os ombros amigos ajudam e muito.
    É sempre um prazer ler-te e comentar o que escreves.
    Abraço
    Caldeira

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  5. Para nos descobrirmos a nós próprios temos que nos pôr à prova.
    Gostei deste voar!
    PG

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  6. "Não me esqueci de nada, mãe
    Guardo a tua voz dentro de mim
    E deixo-te as rosas
    Boa noite.
    Eu vou com as aves."
    Eugénio de Andrade




    Que belo poema, Agostinho!!!


    Ps. FAZ ANOS HOJE?É PEIXINHO DAS MESMAS ÁGUAS COMO EU?
    QUE BELA COINCIDÊNCIA!!!!COMO FIQUEI FELIZ!!!!!

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  7. Eu sei e sinto que os passarinhos que durante estes ultimos quatro anos o acompanharam, nos voos de aprendizagem e não só, o preocupam, e o deixam com uma certa nostalgia, não é? Verdade ou não? Eles vão ter as mesmas saudades, do mestre que os motivou, preparou, ensinou, eu sei lá, haveria tantas coisas a dizer ... QUERO DESEJAR-LHE MUITOS PARABÉN PELO SEU ANIVERSÁRIO, E QUE CONTEMOS MUITOS MAIS ANOS CONSIGO, EM TODOS OS SENTIDOS.:) UM GRANDE BEM HAJA. UMA MÃE RECONHECIDA. PAULA OLIVEIRA.

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  8. Quando os filhos saem de casa em busca do seu próprio destino, muitas sensações e emoções são despoletadas. Estou agora a passar por isso, e às vezes o que se sente é contraditório. Ainda que com rosas. Mas prevalece sempre a compreensão do voo. Ou dos voos.

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  9. Ana Paula,
    Os passarinhos estão prontos para outros voos, em que lhes será feita uma exigência cada vez maior. Oxalá se preocupem sempre com o essencial, que de acessórios andamos todos muito confundidos.
    Obrigado pelas suas palavras. Sei que são sentidas.

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  10. Como nós, que um dia nos desabrigámos das asas dos nossos pais, também os nossos filhos terão que partir em voos solitários... Por vezes, para os lugares mais inesperados, inóspitos e longínquos.
    Mas, já diz o escritor, não há longe nem distância... de certo modo é mesmo assim, "longe, de sitio nenhum"...
    Esta é uma viagem de expectativas, independência e crescimento interior. Para os filhos e para os pais também, de outro modo.

    Que o "Jonathan Livingstone Seagull" a quem dedica o poema nunca se sinta perdido e alcance a plenitude no voo da Vida.
    Vai conseguir. Confie.

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  11. O mundo virtual tem destas coisas. Às vezes, vinda não se sabe de onde, uma palavra tem o condão de nos tocar. Obrigado, caro anónimo.

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  12. Obrigada pela suavidade das palavras.
    Li o seu poema. Tocou-me, porque também eu deixo que o olhar se perca na lonjura dos "trilhos impossíveis", procurando ainda "o verdadeiro lugar da dimensão da minha alma". E tenho medo, sim. Tenho medo de me perder na voragem do ser, porque o sonho nasce sem freio ou medida e os trilhos da vida são outros.

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