domingo, 18 de outubro de 2009

GOOOOLO!!!

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Intervalo na escola. Os miúdos mais velhos, após tragarem o lanche em três tempos, assumem o papel cimeiro da hierarquia do recreio e ocupam o terreno de jogo. São eles quem mais ordena, e aos mais novos nada mais resta que aguardar, ansiosos, com os olhos implorantes a mendigar um convite. Desta vez o Duarte teve sorte. A bola começa a saltitar. O Duarte, sete anitos vivos e escorregadios, corre que se farta para chegar junto da cobiçada redondinha, mas os mais velhos são mais rápidos e chegam sempre primeiro. Ele bem se esforça, mas a bola foge, parece que está zangada com ele. De repente, qual presente inesperado dos deuses, a bola insinua-se à sua frente. Parece que lhe está mesmo a dizer "chuta-me, depressa!". O Duarte não se faz rogado a tão inesperado ensejo e, quase sem saber como, levanta o pé direito e remata com toda a força. A bola, impulsionada pelo desejo de mil glórias, dirige-se para a baliza. O João Franco, o guarda-redes, bem tenta segurá-la, mas nada pode deter a força de tamanha convicção. 
- Goooolo!!! 
O contentamento vem-lhe do mais fundo de si mesmo. Aquele momento é só dele, e manifesta-o de forma exuberante. Até os mais velhos o olham de outra forma, a caminho do respeito. Mas não lhe dizem nada.
No fim do intervalo o Duarte entra na sala, todo transpirado, ainda a gozar o seu momento de glória. Feliz como só uma criança pode ser.
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2 comentários:

  1. A empolgância textual é de tal ordem que espelha a energia do jogo vivido no intervalo da escola. Senti vontade de entrar no jogo e de... marcar goooooloo? Não!... de dar os parabéns ao Duarte e de animar o guarda-redes, o João Franco!
    Mesmo sem redondinha revivi alguns golitos marcados no passado, noutros tempos...
    Agora, fora de jogo, aprecio as palavras dos que, com convicção, as escrevem, chutando momentos de prazer nos que as lêem
    Que belo jogo...de palavras!
    JB

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  2. Eu não digo? A sua escrita é arejada, desliza simples e bela, sem a obscura sombra de muita prosa, tornando-se um convite para o olhar.Os textos falam de coisas tão aparentemente simples, mas tão profundas, que apelam à compreensão do ser humano.
    Você é sem dúvida um professor de excelência e o(s) duarte(s) devem adorá-lo,porque "É em nós que é tudo".
    IBEL

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